Saduceu. Esse era o nome do agrupamento político, econômico e social
da Palestina- na definição do historiador romano Flávio Josefo- no ano
30 d.C, quando um homem considerado “sem eira, nem beira” apareceu
contradizendo tudo o que se praticava na época pelos poderosos.
Foram exatamente os integrantes do partido dos saduceus os
responsáveis diretos pelas acusações, prisão, tortura, condenação e
assassinato de Jesus, o filho de Maria e José, o carpinteiro de Nazaré,
um povoado pequeno e pobre localizado na região da Galiléia.
Para assassinar Jesus, houve uma espécie de acordão político proposto
por Caifás, o sumo sacerdote e chefe do Sinédrio (o Supremo Tribunal da
época), ao governo local, que estava sob o comando de Pôncio Pilatos e
de Herodes Antipas, o rei dos judeus.
Na época, o Grande Sinédrio de Jerusalém era um tribunal formado por
71 homens ricos e considerados sábios, que interpretavam e aplicavam a
lei. O sumo sacerdote ocupava um cargo de confiança no governo romano.
Devia obediência e fidelidade a Roma, mesmo sendo ele um judeu.
Naquele tempo, a Palestina vivia intenso período de efervescência
política e religiosa. Além dos saduceus, existiam outros grupos
religiosos que atuavam politicamente.
Eles não se opuseram à condenação de Jesus. Assim como os saduceus,
fariseus, herodianos, sicários e escribas não viam Jesus com bons olhos,
como pode ser observado nos evangelhos e em outros livros considerados
não sagrados (apócrifos).Na língua hebraica falada no primeiro século, o
nome de Jesus aparece como Ieshuá Ben Yosef. Significa Jesus filho de
José.
Crime para abafar movimento crescente
Mas qual foi o motivo para a cruel eliminação de Jesus? Para os
agentes políticos que detinham o poder econômico, Jesus representava um
perigo e seu movimento, que tinha mensagem de amor e paz, precisava ser
abafado.
Jesus poderia, no entendimento deles, se tornar o rei dos Judeus.
Afinal de contas, ele pertencia à linhagem familiar do rei Davi.
Poderia, inclusive, mudar o contexto político, religioso e social da
época, estruturado em torno de Roma, a Capital do Império, do Templo de
Jerusalém, e da Fortaleza Antônia, que abrigava o Palácio do rei
Herodes, e o Pretório, a residência do governador (ou prefeito) Pôncio
Pilatos.
Teólogos, historiadores, padres, pastores e religiosos mais dedicados
ao estudo das escrituras sagradas sabem que Jesus de Nazaré foi
assassinado por motivações político-partidárias e religiosas.
Jesus foi apenas mais uma vítima do governo romano, que tentou abafar
um movimento supostamente subversivo. No entanto, a morte só fortaleceu
o movimento que resultou na maior religião da Terra, o cristianismo.
A verdade é que lideranças de grupos políticos e religiosos
convergentes foram responsáveis pelo assassinato do filho do carpinteiro
de Nazaré, cuja proposta contradizia governo e oposição, na época do
imperador Tibério.
Esta reportagem não leva em consideração o poder divino de Jesus. Mas
apenas o homem de Nazaré, que desafiou a autoridade do sumo sacerdote
Caifás e do governo romano numa época de tensa agitação política.
O Correio ouviu o teólogo e historiador Vanderlan Paulo de Oliveira
Pereira, o frade franciscano Antônio Ribeiro, conhecido como Frei
Anastácio, e o professor do curso de Ciências da Religião da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Severino Celestino da Silva.
Templo é do ano 950 a.C e foi inicialmente construído pelo rei Salomão
O Templo de Jerusalém foi construído pelo rei Salomão 950 anos antes
de Jesus nascer. Foi destruído pelos babilônicos no ano 587 a.C e
começou a ser reconstruído no ano 530 a.C. O auge da reconstrução,
segundo o teólogo Vanderlan Paulo, se deu nos anos 40, no governo de
Herodes Magno, que deixou a obra pronta.
O templo de Herodes, tinha duas grandes esculturas do imperador Júlio
César e da deusa Roma. As duas imagens tiveram o consentimento dos
sacerdotes, o que contrariava a lei de Moisés que proibia a idolatria.
Mesmo assim, eles acusaram Jesus de descumprir e legislação vigente.
Vanderlan Paulo disse que o templo foi pensado, inicialmente, como um
grande centro comercial, que reservava lugar para orações. Era uma
espécie de shopping da época. O Templo tinha várias divisões. No sentido
de dentro para fora, existia o Santo dos Santos, o lugar mais puro e
sagrado do Templo, da cidade de Jerusalém e de toda a Palestina.
Lá, somente o sumo sacerdote podia entrar uma vez por ano. Portanto,
ele seria a pessoa mais pura. Depois do Santo dos Santos, havia o átrio
dos sacerdotes, onde era permitida somente a presença deles e dos homens
influentes. “Mais para fora do Templo, havia um lugar reservado às
mulheres. Elas não podiam adentrar ao local reservado aos homens e,
muito menos, ao Santo dos Santos. Eram consideradas impuras por
supostamente serem inferiores aos homens e por causa da menstruação, que
era símbolo de sujeira e impureza”, disse o teólogo Vanderlan Paulo.
Sinédrio interpretava e aplicava as leis judaicas
O sumo sacerdote Caifás, responsável direto pela morte de Jesus, foi
nomeado pelos romanos para o cargo de administrador do Templo de
Jerusalém, que foi reconstruído por Herodes “O Grande”. Por isso,
chamavam de “O templo de Herodes”. Ele foi considerado o “novo Salomão”.
Caifás, como sumo sacerdote, comandava o Sinédrio na época de Jesus.
Ele pertencia ao grupo político dos Saduceus. O Sinédrio era a Suprema
Corte que interpretava e aplicava as leis judaicas. Também exercia
funções políticas e legislativas.
Partidos existentes antes e depois do nascimento de Jesus
Macabeus
Formavam grupo com integrantes do exército rebelde judeu que assumiu o
controle de partes da Terra de Israel. Criaram a dinastia dos hasmoneus
e governaram entre 164 e 37 a.C.
Assideus
Seita político-religiosa que existiu muito tempo antes de Jesus, provavelmente no ano 180 a.C.
Fariseus
Surgiram a partir da desintegração dos assideus. Acreditavam na vinda
do Messias, na ressurreição dos mortos, no juízo final e nos anjos. O
Messias, segundo eles, poderia vir mais rápido à medida que seus
seguidores pagassem o dízimo para manter as sinagogas e vivessem de
acordo com a Torá, a Lei de Moisés, formada pelos cinco primeiros livros
do Antigo Testamento.
Herodianos
Grupo político de apoio ao governo de Herodes Antipas, filho de
Herodes “O Grande”, responsável pela matança dos inocentes quando ouviu
falar que o rei dos judeus havia nascido na Galiléia. Foi Herodes, O
Grande, quem cometeu o primeiro atentado contra Jesus. Antipas foi o
mandante da morte de João Batista, filho de Zacarias e Isabel e primo de
Jesus. Como governante da Judéia, Antipas era chamado “Rei dos Judeus”.
Sicários
Tinham ideais revolucionários. Portavam adagas (espécies de punhais).
O pensamento deles era no sentido de atacar romanos que massacravam o
povo.
Saduceus
O nome vem de Sadoc. Significa sacerdotes de Sadoc, um dos primeiros
sacerdotes do rei Davi. Os saduceus eram aliados do governo romano.
Defendiam os interesses do imperador Tibério, do governador Pôncio
Pilatos e do rei Herodes Antipas. Foram eles os principais responsáveis
pelo assassinato de Jesus. O partido dos Saduceus indicava o sumo
sacerdote e, consequentemente, presidente do Sinédrio.
Escribas
Tinham o mesmo perfil dos fariseus. Eram honestos, que se
aprofundavam no estudo e no ensinamento da Torá. Se davam bem com os
saduceus e com os essênios. Eram bem sucedidos financeiramente e
exerciam influência perante o povo.
Semelhança entre Roma e o Brasil
A política no tempo de Jesus Cristo, na concepção da palavra, girava
em torno do Império Romano, independente de quem fosse o imperador.
O professor do curso de Ciências das Religiões, da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB), Severino Celestino da Silva, disse que o
governo de Roma dominava e oprimia em todos os recantos do território
do Império, com homens de confiança nomeados para os governos locais.
Era como o Brasil sob o domínio português. Durante mais de 300 anos, o
rei de Portugal nomeou os governadores-gerais do Brasil, dividiu o
território em Capitanias Hereditárias e as entregou a pessoas de
confiança, que dominavam e reprimiam qualquer tentativa de levante
popular contra a Coroa Portuguesa.
O elo direto entre o imperador romano e a Palestina era o sumo
sacerdote, que comandava o Templo de Jerusalém. No Templo, se praticava
culto a Javé, o Deus dos hebreus, ao mesmo tempo em que a corrupção
corria solta.
A perseguição a Jesus começou logo que ele nasceu. Herodes, “O
Grande”, era o rei da Judéia. Quando soube que um menino poderia ameaçar
politicamente o seu reino, no futuro, não pensou duas vezes. Mandou
matar todos os meninos com até dois anos.
Achava ele que tinha matado o filho do carpinteiro, que ainda mamava
nos seios abençoados da Virgem Maria. Herodes, “O Grande”, morreu e foi
substituído por Herodes Antipas, seu filho, tão perverso quanto ele.
Antipas mandou matar João Batista para satisfazer seus desejos sexuais
com a filha de uma cunhada sua. Na época de Jesus, o sumo sacerdote era
Caifás. Nomeado para o posto diretamente pelo imperador, ele atendia as
determinações do chefe.
Ditadores sanguinários em Roma e no Brasil
Os imperadores romanos eram ditadores sanguinários. O Brasil e a
América Latina sabem bem o que é isso. Em mais de 500 anos de história,
quase todos os países de línguas espanhola e portuguesa tiveram
ditadores como os romanos.
Enquanto Vanderlan Paulo classifica os saduceus, fariseus, escribas,
herodianos e sicários como integrantes de agrupamentos políticos,
partidários e religiosos, Severino Celestino diz que eles apenas
integravam seitas religiosas, como acontece hoje, no Brasil, onde existe
uma Igreja organizada e forte, algumas que surgiram a partir dela, mas
que se firmaram como organizações também fortes, e outras centenas que
não passam de seitas sem qualquer influência direta na maioria da
população.
Segundo Celestino, Jesus tinha o pensamento dos essênios. Defendia a
pureza da Torá. Segundo ele, na concepção romana, o assassinato de Jesus
foi, realmente, político. Ele explica:
O fato de Jesus ter entrado na cidade de Jerusalém com uma multidão
gritando o seu nome e dizendo “hosana, hosana”, que significa “nos
salva, nos salva” foi visto como uma ameaça para o governo de Roma.
Pela popularidade e pregações de paz feitas por Jesus, o povo viu
nele um redentor, uma pessoa que podia tirar a população do julgo romano
naquele momento turbulento, o que só poderia acontecer por meios
políticos e violentos.
Mas essa não era a ideia de Jesus, embora os evangelhos o apresentem
como uma pessoa corajosa, que não se intimidava com ameaças, que
contrariava o governo, a oposição e a própria legislação vigente,
interpretada ao pé da letra pelos chamados doutores da lei.
O povo se identificou com ele, que, mesmo sendo pacífico, teve
momentos de fúria, ao ponto de ter entrado no Templo e revirado tudo,
chamando a todos de ladrões e salteadores. O episódio demonstrou que
Jesus não compactuava com a corrupção praticada no Templo, em nome de
Deus.
Desentendimentos de Jesus com os sacerdotes
Antes de entrar em Jerusalém, saudado como o salvador, Jesus tinha se
desentendido várias vezes com os sacerdotes, mesmo sugerindo que se
desse a Roma o que era de Roma, em alusão ao pagamento de impostos.
Ao mesmo tempo em que Jesus desafiava as autoridades judaicas,
representava um perigo para o governo do imperador Tibério, do
governador Pôncio Pilatos e do rei Herodes Antipas.
Exemplos de crime cruéis na Paraíba no Brasil
O Brasil tem inúmeros exemplos de assassinatos de pessoas que, como
Jesus, representavam ameaças para determinados governos, grupos
políticos ou econômicos, políticos locais e coronéis, principalmente no
Nordeste.
Na Paraíba, basta lembrar os desaparecimentos dos camponses Nego Fuba
e Pedro Fazendeiro, em João Pessoa, no ano 1964; os assassinatos do
também camponês João Pedro Teixeira, em 1962; e da camponesa Margarida
Maria Alves, em 1983, respectivamente em Sapé e Alagoa Grande, entre
tantos outros, apenas nos últimos 55 anos.
No Brasil, assim como aconteceu em Roma, são incontáveis os casos
semelhantes de tortura, assassinatos, prisões injustas e
desaparecimentos desde que os colonizadores portugueses colocaram os pés
na Terra de Santa Cruz, uma alusão à cruz do Calvário.
Talvez o que mais aproxima o Brasil de Roma antiga seja o extermínio
dos índios e o tráfico de negros (comprados na África) para serem
escravos de portugueses brasileiros brancos, uma chaga que ficará para
sempre na história da humanidade.
Jesus abominava a corrupção e não aceitava que o povo continuasse
oprimido pelo governo romano, com apoio dos líderes políticos e
religiosos de seu País.
Manifestação em Jerusalém numa quarta-feira
O fato de Jesus ter entrado em Jerusalém, montado em um jumento, foi
visto como uma ameaça para Roma. Pôncio Pilatos (governador da Judéia),
segundo o professor Severino Celestino, pensou que Jesus fosse um
revolucionário que estava ameaçando o poderio romano. “Até porque ele
tinha formado um grupo de seguidores que se assemelhava a um grupo
político. Além do mais, Jesus foi ovacionado pelo povo que pedia que o
salvasse. Isso tudo chamou muito a atenção do governo”, declarou
Celestino.
Foi naquela semana, após a entrada em Jerusalém, que Jesus foi preso,
torturado, julgado às pressas, condenado e assassinado numa cruz.
Tudo isso aconteceu entre uma quarta-feira e uma sexta-feira. O fato
de Pilatos ter lavado as mãos foi um sinal de posicionamento político em
relação a Jesus. Foi uma omissão.”Se ele quisesse, não teria mandado
executar a pena”, disse Celestino.
Como foi a trama contra Jesus
Primeiro, Jesus foi traído por um dos seus amigos e seguidores: Judas
Iscariotes. Corrupto, Iscariotes recebeu propina (palavra muito em voga
hoje no Brasil por causa do escândalo da Petrobras) para entregar Jesus
aos seus algozes. Quem prendeu Jesus foram soldados romanos comandados
pessoalmente por Caifás, o “homem de Deus” no Templo.
Sobre Jesus recaíam acusações diversas. Era acusado de blasfemar, de
insuflar a população, de descumprir leis judaicas, de ser contra Roma.
Por isso, Caifás, que era subserviente ao governo romano, o enviou para
ser julgado por Pilatos, no Palácio de Herodes. Mas as acusações, no
entendimento de Pilatos, não tinham consistência.
No entanto, o sumo sacerdote e os outros sacerdotes começaram a
insuflar a população contra Jesus e a exigir uma posição de Pilatos, que
ainda deu a oportunidade das pessoas escolherem entre o filho de Maria
(um sangue inocente, nas palavras de Pilatos na Bíblia) e um homicida
chamado Barrabás (o nome dele em hebraico é Ieshuá Bar Abba, que
significa Jesus filho do pai). Quem matou Jesus foi o governo romano,
mas ele foi entregue por judeus da alta cúpula dos Saduceus, conforme
Celestino.
Convivência entre fariseus e cristãos
Entre os anos 50 a.C e 100 d.C, a população da Palestina vivenciou
intensa agitação política e religiosa. Queria se livar do julgo romano e
esperava a vinda do Messias. Achavam que o ele viria para salvá-lo de
tanta opressão. Na época, política e religião estavam atreladas, como
estiveram na Europa da Idade Média e no Brasil do pós-descobrimento.
Os anos 70 d.C foram decisivos na elaboração dos evangelhos que estão
hoje na Bíblia. No mesmo período em que os textos eram escritos, o
Templo voltou a ser destruído.
A perseguição aos palestinos se intensificou. Os cristãos não
escaparam. Muitos foram aprisionados, torturados e assassinados, como
havia acontecido com Jesus.
Foi quando o imperador Nero mandou atear fogo em Roma e colocou a
culpa nos cristãos. Com a destruição do Templo, as sinagogas se
fortaleceram, bem como o movimento farisaico.
Os fariseus frequentavam o Templo, mas preferiam as sinagogas. Entre
os anos 70 e os anos 90 d.C, eles e os cristãos conviveram
pacificamente, dividindo os mesmos espaços nas sinagogas. Tinham tudo em
comum: acreditavam na ressurreição, se aprofundavam nos ensinamentos da
Torá (os cinco livros do antigo testamento, também chamados de
Pentateuco) e tinham certeza da chegada do reino de Deus.
Por que se separaram?
Porque os cristãos não aceitaram participar das guerras judaicas
contra os romanos que já não suportavam mais tanta dominação e se
rebelaram. No ano 90 d.C, o Concílio Judaico de Jâmnia decidiu
amaldiçoar os hereges e expulsar os cristãos das sinagogas.
Cada grupo foi para um lado. Conta o teólogo Vanderlan Paulo que “os
autores dos evangelhos escreveram nos textos (que hoje servem de base
para a fé cristã) os sentimentos da iniciante comunidade cristã em
relação aos judeus e atribuíram as palavras a Jesus, que tinha morrido
40 a 50 anos antes. É por isso que os evangelhos de Mateus, Marcos e
Lucas apresentam palavras idênticas atribuídas a Jesus em relação aos
fariseus.
Mateus 23:13
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o
reino dos céus para os homens. Nem vocês entram, nem deixam entrar
aqueles que desejam. Ai de vós doutores da lei e fariseus hipócritas.
Vocês exploram as viúvas e roubam suas casas e para disfarçar, fazem
longas orações. Por isso, vocês vão receber uma condenação mais severa”.
Marcos 12:40
“Tenham cuidado com os doutores da lei. Eles fazem questão da andar
com roupas compridas e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas.
Gostam dos primeiros lugares nas sinagogas e dos pontos de honra nos
banquetes. No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas e para
disfarçar, fazem longas orações. Sem dúvida, estes homens sofrerão
condenação mais severa!”
Lucas 20:47
“Tenham cuidado com os doutores da lei. Eles fazem questão da andar
com roupas compridas e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas.
Gostam dos primeiros lugares nas sinagogas e dos pontos de honra nos
banquetes. No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas e para
disfarçar, fazem longas orações. Sem dúvida, estes homens sofrerão
condenação mais severa!”
Frei Anastácio: Jesus desbancava os adversários um a um
Frei Anastácio concorda com Vanderlan Paulo em relação à atuação
política dos fariseus, herodianos, sicários, saduceus e escribas e na
participação de pessoas ligadas a esses grupos nas acusações, prisão,
condenação e morte de Jesus. Segundo o sacerdote, “a morte de Jesus foi
um assassinato político”.
“Ele foi levado de um lado para outro e Pilatos lavou as mãos porque
viu que ele não tinha culpa”, disse Frei Anastácio. Segundo ele, Jesus
representava um perigo para Roma e para os mandatários do Templo.
“Jesus tinha um projeto de igualdade e união. A mensagem dele
objetivava acabar com a hipocrisia e ele sempre se deparou com os
inimigos políticos do seu projeto, a exemplo dos escribas e fariseus,
que queriam pegá-lo em contradição”, declarou.
Frei Anastácio disse que Jesus tinha resposta pronta, na ponta da
língua, para desbancar os adversários: “Quem não tiver pecado, que atire
a primeira pedra”, disse Jesus, no Evangelho de São João, aos escribas e
fariseus que queriam apedrejar, com base na Lei de Moisés, uma mulher
que teria sido flagrada cometendo adultério.
“O caso da suposta mulher adúltera é uma prova de que os inimigos
estavam sempre no encalço de Jesus, mas sempre desbancava um a um. Jesus
era um homem inteligente, que raciocinava e interpretava bem os fatos”,
frisou Frei Anastácio.
Canção de Padre Zezinho reproduz posições políticas contra Jesus
Outra fonte de inspiração para esta reportagem foi a música “Ieshuá”,
do padre José Fernandes de Oliveira, conhecido nacional e
internacionalmente como Padre Zezinho. “Catalogaram Jesus, catalogaram
Jesus, por não andar na direita, na esquerda ou no centro ou na
situação. Por não falar como essênio, zelote ou governo, nem oposição. E
por não ser fariseu. E por não ser saduceu, classificaram Jesus como
herege, blasfemo, inimigo e perigo mortal pra nação”, diz a canção de
Padre Zezinho.
Em seguida, afirma que Jesus foi classificado como alienado e
impostor sem classe. “Desafiaram Jesus, desafiaram Jesus, porque fazia
milagres em dias errados e sem permissão. Por aliar-se aos pequenos, sem
ser alinhado e nem ter posição. E por não ser um doutor. Por falar
tanto de amor, classificaram Jesus como um alienado, impostor, renegado
sem classe ou padrão”, frisa a canção.
Padre Zezinho confirma na música que Jesus foi assassinado porque
tinha uma mensagem diferente da romana e da judaica. Na mensagem,
segundo o sacerdote, Jesus falava de um reino de fraternidade,
igualdade, união. Isso era entendido pelo governo romano e pelos
gestores do Templo como perigo de um golpe ou de uma insurreição.
O fato de Jesus falar para multidões de analfabetos e dizer que era
um enviado de Deus mexeu com os brios romanos e judaicos, já que, ao
imperador romano e ao governador da Judéia, a população deveria rendas
honras todos os dias.
Por fim, a canção afirma que Jesus foi acompanhado por pobres, cegos,
surdos, coxos, mudos, pessoas sofridas, oprimidas, depressivas, com
problemas mentais e psicológicos (os endemoniados da época).
Aquelas pessoas, segundo a letra de Padre Zezinho, eram perseguidas
“por quem tinha muito e mandava demais”. Baseada nos escrito bíblicos, a
canção diz que pessoas ricas e importantes também deram crédito à
proposta de Jesus.
A música cita apenas que até oficiais do Exército romano resolveram
acompanhar Jesus. Mas pessoas influentes Cláudia, a esposa de Pôncio
Pilatos; Zaqueu, o cobrador de impostos; Maria Madalena, a empresária de
Magdala; José de Arimateia, homem rico e importante membro Sinédrio;
Mateus, outro cobrador de impostos, entre outras personalidades que
ajudaram a difundir o cristianismo após a morte daquele a quem chamavam
de Mestre.
Reportagem: Adelson Barbosa dos Santos (Correio da Paraíba)
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