Entre os documentos estão planilhas apreendidas com Benedicto Barbosa. Despacho com a decisão foi assinado pelo juiz federal nesta segunda (28).
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, decidiu enviar ao Supremo Tribunal Federal
(STF) as investigações da 23ª e 26ª fases da Operação Lava Jato,
batizadas de Acarajé e Xepa. O despacho com a decisão foi assinado por
Moro na manhã desta segunda-feira (28).
A 23ª fase da operação deu origem à 26ª. As investigações de documentos
apreendidos chegaram a ser divulgadas pela imprensa, mas depois foram
colocadas em sigilo pelo juiz.
Entre os documentos estão planilhas apreendidas na residência de
Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Construtora Norberto
Odebrecht, e alvo da 23ª fase. Segundo Moro, os documentos identificam pagamentos
a autoridades com foro privilegiado, mas ainda é prematura qualquer
conclusão sobre a natureza ilícita, ou não, dos pagamentos que fazem
parte da planilha.
"De todo modo, considerando a apreensão e identificação de tal planilha
com Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que retratam pagamentos do Grupo
Odebrecht a autoridades com foro privilegiado, talvez lícitos, é o caso
de remeter este processo", argumentou o juiz.
Ao G1, a Odebrecht informou, em nota, que "Benedicto Junior prestou todos os esclarecimentos em sua oitiva".
Moro disse ainda que "o ideal seria antes aprofundar as apurações para
remeter os processos apenas diante de indícios mais concretos de que
esses pagamentos seriam também ilícitos. A cautela recomenda, porém, que
a questão seja submetida desde logo ao Egrégio Supremo Tribunal
Federal".
Ao enviar as investigações, Moro pediu ainda urgência para a análise
dos documentos e disse que o material apreendido deverá permanecer na
sede Polícia Federal (PF) em Curitiba, à disposição do STF, Ministério Público Federal (MPF), defesas e autoridades policiais.
Avanço nas investigações
Ainda sobre a 23ª fase, o juiz relatou que "a investigação está mais
avançada em relação ao seu objeto inicial, ou seja, aos pagamentos
efetuados por Zwi Skornicki e pelo Grupo Odebrecht a João Cerqueira de
Santana Filho e a Mônica Regina Cunha de Moura, bem como aos pagamentos
de Zwi Skornicki a Pedro José Barusco Filho e Eduardo Costa Vaz Musa".
Ele também argumentou que houve avanços nas investigações contra
Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, Luiz Eduardo da Rocha Soares,
Fernando Migliaccio da Silva, Olivio Rodrigues Júnior, e Marcelo
Rodrigues.
No despacho, Moro explicou que, apesar dos investigados da 23ª não
possuírem foro privilegiado, as planilhas que envolvem os que tem foro
foram apreendidas na referente etapa. E que, por isso, foram
encaminhadas juntamente com as da 26ª ao STF.
O juiz ressaltou ainda que quanto às investigações mais avançadas em
relação aos pagamentos efetuados por Zwi e pelo Grupo Odebrecht a João Santana
e a Mônica Moura, bem como aos pagamentos de Zwi Skornicki a Pedro José
Barusco Filho e Eduardo Costa Vaz Musa, caberá ao STF separar as
apurações ou até mesmo devolvê-las para a 13ª Vara Federal Criminal de
Curitiba.
Denúncia do MPF
Na decisão desta segunda, Moro também informou ao STF que houve uma
recente apresentação de denúncia do MPF contra Zwi Skornicki, João
Santana, Mônica Moura e outros em uma ação penal da 23ª fase.
Entenda a operação Acarajé
A 26ª fase foi deflagrada como decorrência das investigações da 23ª
etapa, denominada "Acarajé". Segundo as investigações, essa palavra era
um dos codinomes utilizados por funcionários da Odebrecht para o
pagamento de propina em espécie. Além de funcionários da empreiteira,
também foram presos o marqueteiro do PT João Santana e a mulher dele,
Monica Moura.
O casal é suspeito de receber dinheiro desviado da Petrobras em uma
conta não declarada no exterior, e também no Brasil. Santana é
publicitário e foi marqueteiro das campanhas da presidente Dilma
Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
As investigações apontaram que Santana e Moura receberam em conta não
declarada no exterior US$ 3 milhões de offshores ligadas à Odebrecht. Já
no Brasil, os investigadores encontraram uma planilha com Maria Lúcia
Tavares, ex-funcionária da empreiteira, que faz referências a pagamentos
de R$ 22,5 milhões a alguém de codinome "Feira".
Segundo a ex-funcionária, que também foi presa nesta fase e virou
delatora da operação, "Feira" era o codinome utilizado para Monica
Moura, em um jogo de palavras com o sobrenome do marqueteiro e a cidade
de Feira de Santana. João Santana e Monica Moura seguem presos
preventivamente em Curitiba.
Foi nesta fase, também, que a PF prendeu o executivo da Odebrecht
Benedicto Barbosa Júnior e apreendeu, na residência dele, uma planilha
com referências a pagamentos para políticos de diversos partidos. Esta é
a planilha a que Moro faz referência ao justificar o envio ao STF.
Entenda a Operação Xepa
A delação de Maria Lúcia Tavares embasou a deflagração da fase "Xepa",
que descobriu o “Setor de Operações Estruturadas” da Odebrecht. De
acordo com a polícia, se tratava de um departamento exclusivo dentro da
empreiteira para o gerenciamento e pagamento de valores ilícitos.
O MPF afirma que os pagamentos feitos pela Odebrecht estão atrelados a
diversas obras e serviços federais e também a governos estaduais e
municipais. Dentre elas está a construção da Arena Corinthians, segundo o
procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
A estimativa é de, ao menos, R$ 66 milhões em propina distribuída entre 25 a 30 pessoas. Este valor, segundo a Polícia Federal (PF), estava disponível em apenas uma das contas identificada como pertencente à contabilidade paralela da empresa.
Além do estádio, a operação também investiga irregularidades no Canal
do Sertão, na Supervias, no Aeroporto de Goiânia e na Trensurb, do Rio
Grande do Sul.
“Se chegou a observar R$ 9 milhões de um dia para outro em dinheiro em
espécie”, disse a procuradora do Ministério Público Federal (MPF) Laura
Gonçalves Tesser. Os pagamentos ilegais ocorreram já com mais de um ano
da Lava Jato em curso.
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